A
última vez que entrei em uma sala de aula foi em 1991. Na universidade, só
havia ido a aulas como convidado para falar do Vida Urgente, de Fotografia ou
Política, para estudar, nunca.
Ontem,
aos 44 anos, vivi a experiência de assistir uma aula na faculdade pela primeira
vez como estudante. Foi uma sensação muito boa e quero compartilhar com vocês.
Confesso
que estava com um frio na barriga. Me perguntava se ainda usavam caderno, lápis
e caneta, ou só Ipad, Iphone ou Iqualquer coisa, tinha a impressão que iria
entrar na sala de aula dos Jetsons (alguém lembra do desenho?). Procurei chegar
cedo, pois queria fazer um breve reconhecimento do espaço e também o cadastro
para pagar o estacionamento com desconto (tempos difíceis e toda a economia é
bem vinda), depois me dirigi ao prédio 1 sala 1105. Três colegas já conversavam
na porta, provocados pelo Gabriel, de 17 anos, muito comunicativo que já ia cumprimentando
todo mundo que chegava e se apresentando. A conversa, puxada pelo Gabriel, era
bem filosófica sobre o perfil de quem escolhe o curso de História,
principalmente licenciatura, já que a profissão de professor não é uma das,
digamos, mais lucrativas. Fiquei escutando bem atento, já tinha ali uma pequena
amostra do que seria o primeiro dia.
Após um
pouco de conversa, ingressei na sala, escolhi um lugar e fiquei observando os
colegas que entravam. Gente, que riqueza! Na minha turma tem uns quatro
metaleiros, vários cabeludos, 4 pessoas com mais de 40 anos, incluindo eu, um
colega que é a cara do John Lennon, tem gente dos 17 aos 60 anos, encontrei um
companheiro do PSB, um rodoviário que trabalha no STS e conhece alguns amigos
que tenho lá do tempo que prestava serviços fotográficos. Alguns colegas falam
pelos cotovelos (Tenho concorrência forte) outros só observam, porém todos
parecem ter uma personalidade encantadora, que não vejo a hora de conhecer
melhor.
A
primeira aula era de Didática I, o professor tratou de fazer diversas dinâmicas
de apresentação que serviram para quebrar o gelo, e quebrou tanto, que durante
uma delas um colega manifestou que achava aquilo tudo uma bobagem, que não
perdia o tempo observando as pessoas e as rotulando ou classificando, que não
acreditava naquele tipo de atividade... (O Professor havia nos dividido por
signos e perguntara que qualidade e que defeito acreditávamos ter em comum), o
professor teve um comportamento apropriado, evitando maiores comentários,
apenas respondendo que ele precisaria rever isso, pois, educação é uma
construção coletiva, tem que haver interação, e seguiu. Aquele episódio me deixou
empolgado, pois adoro gente de opinião, mesmo que não concorde com ela, e o
embate de ideias faz subir minha adrenalina.
Desta
aula já tive a minha primeira reflexão: Sempre procurei me dirigir aos alunos
como “estudantes”, coisa do movimento estudantil, a palavra “aluno” me parecia
de caráter inferior, e descobri que de certa forma ela significa algo neste
sentido. O professor fez uma leitura etimológica da palavra dizendo significar “sem
Luz”, porém, já fui pesquisar e descobri que há controvérsias, e que ela quer
dizer “criança de peito”. Seja qual for o significado, pois não vou me atrever,
pelo menos agora, a levantar essa polêmica já que a mesma é amplamente debatida,
ela dá a conotação de dependência. Independente disto eu sempre procurei usar
uma metáfora para demonstrar a importância da Educação para as pessoas, dizendo
que é ela que nos leva a Luz!
A
segunda aula foi de Psicologia da Educação e a professora já chegou com uma
porção de citações filosóficas e psicológicas, Lacan, Freud... Em resumo o
negócio esquentou e quando vimos já era hora de ir embora e ela nem conseguiu
terminar de ler o cronograma do semestre pois o tempo foi consumido em debates
e intervenções muito interessantes da galera.
Está
aula foi muito rica para mim, cheio de profundidade. Uma das coisas que ficou
foi que precisamos ter IDENTIDADE com aquilo que fazemos, que para APRENDER é
preciso DESEJO, precisamos estar abertos para receber, abertos ao outro,
precisamos desejar aquilo, pois se não houver esse desejo, não receberemos
aquilo que querem nos dar. Falamos de motivação, de empatia, de confiança, foi
uma aula muito boa. Assim como na outra aula, teve um colega, que durante um
debate, sobre um chocalho (História longa, precisaria mais espaço) tentou
colocar nossos pezinhos no chão, nos trazendo da flutuação, educadamente nos
dizendo que estávamos “viajando” que aquilo não tinha nada de filosófico. Adoro
isso!
Dispensa
dizer que estou motivado, parece que minha mente e meu corpo estavam com sede,
sofriam de desidratação, e com essa oportunidade, começo a ver meu corpo
reagir, minha mente entrar em processo de recuperação e desenvolvimento e minha
alma parece pular de alegria.
Embora
seja apenas o primeiro dia, mas a impressão que tenho é que o curso de História
é minha cara e aquela mistura de gente é a minha turma, sinto que vou aprender
muito com os professores, mas também vou aprender bastante com os colegas, com
o ambiente da faculdade, estou me sentindo um guri.