Confesso
que ando confuso. As redes sociais me proporcionam um carrossel de emoções,
pois através dela vejo o mundo. Vejo como as pessoas podem ser boas, generosas
e solidárias, mas também posso ver como elas podem ser cruéis e abomináveis.
A
quantidade de manifestações racistas e preconceituosas, de toda a ordem, que
tenho visto nas redes sociais me deixam triste. Mesmo com o conhecimento que
temos de tudo que foi feito em nome do preconceito, como o simbólico e
inesquecível caso da Alemanha Nazista de Hitler, parece que não nos serviu de
nada para repensarmos nossa forma de pensar e agir.
Ontem a
Xuxa foi ofendida no congresso, tristemente por um deputado do meu partido, o
Pastor Eurico que, se dependesse de mim, já haveria sido expulso do PSB por
suas frequentes manifestações preconceituosas. Mas, o pior de tudo é que gestos
como o dele, fazem se levantar da escuridão os sentimentos mais horrendos das
pessoas.
Apareceram
em minha linha de tempo uma série de manifestações contra a Xuxa concordando
com o Pastor, tipo ela não tem legitimidade, ou moral para lutar contra a
violência contra as crianças e contra pedofilia.
Convenhamos!
Não tenho procuração da Xuxa, não estou entre seus baixinhos, e sequer tenho
simpatia por ela. Porém dizer que ela não tem legitimidade, ou acreditar que podem
ofendê-la por causa do fato de ter feito um filme, no passado, onde aparece “fazendo”
sexo com um menino, é uma covardia.
A Xuxa
assumiu publicamente ter sido abusada sexualmente na infância e adolescência e
isso por certo, lhe traumatizou, como faz com todos que sofrem esse tipo de
violência. Durante muitos anos sufocou isso dentro de si e, em um ato de extrema
coragem, trouxe a público o seu drama no sentido de alertar a população. Na época
já sofreu agressões por isso, e o filme que fez, foi usado para agredi-la.
Vejam bem: A pessoa sofre uma violência horrível quando criança, é uma
personalidade pública, vêm a público expressar isso no sentido de alertar sobre
o problema e ao invés de ser apoiada é agredida? Que país é esse?
Já havia publicado essa postagem quando o Amigo Juarez Júnior me sugeriu colocar esse vídeo. Atendido!
E o filme? Eu pergunto: E o filme? O filme é filme ou é realidade? A Xuxa abusou de alguma criança, ou fez um filme? Quer dizer que os atores que aparecem nos filmes matando crianças são assassinos de crianças? Ou que aparecem representando cenas de sexo são pedófilos? Acho que as pessoas estão confundindo ficção com realidade. Julgar se ela deveria ter feito aquele filme é uma coisa, isso tem a ver com as escolhas dela, inclusive ela mesmo deve considerar um erro pois sua carreira tomou outro rumo e ele tem apenas servido para difama-la e agredi-la. Já vi artistas muito importantes, verdadeiros ídolos, fazendo cenas em filmes, novelas, seriados, que abomino, porém compreendo isso como arte. Não condeno de prisão o artista que matou pessoas a sangue frio em um filme, pois se fosse assim, todo o elenco do filme Tropa de Elite estaria preso.
Não
consigo compreender a postura do Pastor Eurico, e muito menos das pessoas que
estão difundindo agressões contra a Xuxa misturando a realidade triste que ela
viveu, seus traumas, com o fato de ter feito um filme. Sinceramente não
compreendo, a não ser que deixe de lado a racionalidade, e permita que o
preconceito guie minhas opiniões.
“Apedrejar”
Xuxa em praça pública (As Redes Sociais se prestam a isso) é um gesto de
intolerância com a sua dor, a dor de uma mulher que, quando criança, sofreu uma
violência que não compreendia, que não reconhecia, e isso lhe machucou, lhe
afetou. Que bom que ela conseguiu construir uma carreira, ter uma família e
mesmo após isso, vir a público alertar sobre algo que ocorre com milhões de
crianças inocentes no mundo, essa é a questão que deve ser considerada
relevante.
O
Pastor Eurico não devia ter ofendido Xuxa, o Pastor Eurico não deveria ter
sujado um ato que tinha o objetivo de avançar na defesa dos direitos das crianças
com seu preconceito, o Pastor Eurico não deveria despertar, insuflar, incentivar
a incompreensão, o Pastor Eurico deveria agir com decoro e respeitar os
convidados da Câmara dos Deputados e não agredi-los com seu ódio. Ele sim
merece nossa censura e nosso repúdio, mesmo assim não defendo seu “apedrejamento”.
Parabenizo
o Deputado Beto Albuquerque, líder da bancada do PSB na Câmara dos Deputados, que
de forma ágil, substituiu o Pastor Eurico pelo deputado Júlio Delgado PSB/MG na
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Reflitam!