Existem coisas
na vida que temos muito orgulho de contar, coisas que nos fazem sentir
especiais. Ter conhecido e acompanhado Leonel Brizola como fotógrafo, por
alguns anos, é uma destas honras da qual não tenho palavras para expressar em
toda a sua magnitude. Brizola foi um político incomum, diferenciado, fora de
série. Hoje, com certeza, ocupa um lugar no Olimpo dos Deuses da política.
É impressionante
como o Brizola está em minha Vida. Foi a pessoa que mais fotografei. Em minha
casa armazeno um gigantesco arquivo de fotos suas. Estive em tantos lugares o
acompanhando e presenciei inúmeros encontros dele com pessoas, tanto anônimas
como conhecidas. Participei de momentos da política gaúcha e ouvi Brizola
discursar por um incontável número de vezes que não poderia ser outra coisa
senão um Brizolista.
Meu primeiro encontro com Brizola - Impossível esquecer! |
Fiz política
grande parte da minha Vida e teve uma época que pensei que sabia fazer isso, e
mais, achava que fazia bem. Em 2001 acompanhei um grupo de militantes que
deixou o PDT por discordar dos rumos que o partido tomava e principalmente por
não ver que através do PDT pudéssemos fazer as transformações que sempre
sonhamos. Foi uma decisão muito difícil que doeu em todos nós Brizolistas.
É preciso
registrar, que ser um militante político não é uma forma de ganhar a vida fácil,
muito pelo contrário, exige renúncia e muita dedicação. Pelo menos era assim.
Nunca fiz
política por dinheiro e embora as pessoas possam considerar ridículo, do alto
dos meus 42 anos, declaro que sempre acreditei que podia “mudar o mundo” e por
um tempo achei que a militância política era o melhor lugar para as pessoas que
pensavam como eu estarem. Em 2001 deixei de acreditar nisso, e me desfiliei do
PDT, de Leonel Brizola, a quem sempre admirei e respeitei, acompanhando um
grupo de militantes com quem tinha afinidade ideológica. Entre estes militantes
estava a atual presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, além de Sereno Chaise,
Marcos Klasmann, Milton Zuanazzi, e muitas outras figuras importantes do PDT. Todos esses militantes ingressaram no PT e eu
resolvi tomar outros rumos na minha Vida, fui levar minha crença e minhas
verdades para onde achava que seria mais útil.
Quem me conhece
sabe que sou um “guevarista” e que acredito que “quem não vive para servir, não
serve para viver” e embora a frase pareça radical e um tanto forte, é assim que
sou e por este motivo deixei de acreditar nos políticos que, de um modo geral,
com raras exceções, estão aí mais para se servir do que para servir.
Nos últimos
quase 10 anos, me dediquei ao Terceiro Setor, exercendo com toda a minha
dedicação, amor e crença em um mundo melhor, a função de Diretor Executivo da
Fundação Thiago de Moraes Gonzaga, e pensei que nunca mais iria participar da
política. Sempre achei um retrocesso me envolver com política novamente, pois
estava sendo muito mais útil a sociedade me dedicando a Fundação, e a política
era coisa do passado.
Mas não temos
como prever o futuro, e após deixar minhas funções na Fundação e me conceder um
período sabático, participei da campanha de minha querida amiga Juliana
Brizola, em busca de uma cadeira na Assembléia Legislativa, conquistada com uma
expressiva votação, e após relutar muito aceitei o convite para assessorá-la na
Assembléia Legislativa, onde ingressei em fevereiro deste ano.
Na Assembléia permaneci
por exatos seis meses, mas que foram tão intensamente vividos, que valeram por
anos, e proporcionaram o surgimento de um sentimento em mim que estava
adormecido. O gosto pela política.
Acompanhando a
luta desta jovem aguerrida e impressionantemente inteligente em busca de
reconhecimento e espaço dentro do partido que seu avô criou, e da qual foi à
grande e insubstituível liderança, só fez crescer a minha admiração e o
respeito por ela. Nestes seis meses que estive ao seu lado de Juliana Brizola,
vi uma liderança diferenciada, representante de uma nova geração de políticos,
mais moderna, menos dona da verdade, e o mais importante, uma mulher, mãe, com
um filho pequeno e que tenta conciliar a vida pública sem renunciar a família,
como fazem a maior parte dos políticos, e até por isso é bastante
incompreendida. Orgulho-me muito de ter servido a Leonel Brizola da mesma forma
a sua neta Juliana Brizola.
Mas, se por um
lado eu pude ver nascer uma promissora liderança, e conviver com uma política
sensível, que sempre tratou a todos com respeito, pois durante os seis meses
que a acompanhei, jamais a vi ser imprópria com um colaborador ou qualquer
outra pessoa, sempre soube escutar de forma humilde, tratando a todos com cortesia
e educação. Por outro lado a vi sofrer um massacre vindo do próprio partido.
Tudo o que vivi nestes seis meses me fizeram recuperar o amor pela política e a
vontade de fazer a diferença, porém me deram a certeza de que a escolha que
tinha feito em 2001 estava correta em deixar o PDT.
Não vou utilizar
esse espaço para criticar o PDT e suas lideranças, pelo respeito a história do
partido e pelos inúmeros amigos que tenho no PDT, pessoas que foram e são
importantes para mim. A decisão de não voltar a me filiar e optar por retomar
minha caminhada política em outra sigla foi muito difícil, pois por questões
éticas, tive também que deixar de estar ao lado da Juliana e seus irmãos Leonel
e Carlito nesta cruzada pela reconstrução da sigla. Sempre me senti em casa
dentro do PDT e tenho muitos laços afetivos com as pessoas e com o Brizolismo,
mas o PDT parece não estar aberto a novas formas de pensar, a novas lideranças,
ele está fechado. Para mim não dava, talvez não seja o PDT que não sirva para
mim, mas eu que não sirva para o PDT.
"Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há homens que lutam por um ano, e são melhores;
Há homens que lutam por vários anos, e são muito bons;
Há outros que lutam durante toda a vida, esses são imprescindíveis."
(Bertolt Brecht)
Mas, se pudesse
deixar um conselho, diria a meus amigos do PDT, que o recado que eles passam
para a sociedade é muito ruim. Parece que no PDT não têm espaço para novas
formas de pensamento, que os ideais vêm e segundo plano e o que importa é
conquistar cargos e mais cargos, e que se alguém se insurgir contra isso, será
perseguido, independente de quem seja. Se fazem isso com os legítimos herdeiros
de Leonel Brizola, o que farão com os “Zés”.
Posso até estar
errado, mas lutei uma vida inteira para construir um mundo melhor para todos
nós, meus filhos e netos sempre pagaram com ausências e poucas riquezas por
minha escolha idealista, mas espero que quando me for, meus amigos e aqueles
que gostaram de mim, estendam a mão a meus descendentes, caso eles precisem, e
não peço favorecimentos, mas conselhos,
apoio, compreensão e o que vi nestes últimos meses, foram pessoas que muito se
beneficiaram da imagem de Brizola, perseguirem seus descendentes. Para mim,
assim não dá.
Assim, meu
Brizolismo está aceso dentro de mim, ainda mais após comemorarmos os 50 anos da
Legalidade e a convivência com os netos de Brizola, com quem construí uma
amizade que pretendo levar por toda a minha vida. Da mesma forma que carrego
minhas convicções socialistas e meu Guevarismo por onde vou, também sempre
levarei o meu Brizolismo aonde estiver.
Brizola Vive!
Saudosos Leonel Brizola e Darcy Ribeiro - Seus ideais permanecem! |