Era 1h da manhã de Sábado, dia 21.01.2012, quando minha filha me
acordou para atender minha cunhada, que estava ao telefone, pois uma
amiga da família, vizinha há muitos anos, estava passando mal e
precisava de socorro. Começava aí, mais uma de minhas experiências
com o sistema de saúde.
Parece impressionante, mas toda vez que tenho contato com hospitais,
emergências, ambulatórios ou etc., acabo tendo motivos para
escrever algo sobre o assunto. Foi assim com minha mãe, com meu
sogro. Por que será?
A amiga, com mais de 70 anos, já estava doente, passou um longo
período de internação, mas desta vez caminhava para sua última, pois,
veio a falecer naquele mesmo dia.
Ela foi conduzida ao Hospital Conceição pela SAMU e segui em meu
carro com a filha, que há 9 anos se dedicava com extremo afinco aos
cuidados com a mãe, um exemplo que me comoveu muito. Teria que
escrever uma postagem especial para relatar as atividades e a
dedicação com que ela cuidava da mãe, principalmente nos últimos
meses, que ela necessitava de uma atendimento especial, a impressão
era de que ela não dormia nunca, tamanha era a atenção dada, tanto
é verdade que, com extrema agilidade, ela detectou que algo não
estava bem e imediatamente providenciou socorro.
Alguns minutos após a chegada ao hospital, fomos chamados a
ingressar na “área vermelha” da emergência do Hospital
Conceição, onde se passou a cena que me marcou muito: Era um
corredor, com uma porta vermelha ao fundo, uma médica veio nos
atender, estávamos eu, minha cunhada e a filha da paciente, amiga da
família, a médica passou então a nos relatar que o caso era
gravíssimo e que provavelmente ela não passaria daquela noite,
tentou consolar a filha e falou sobre o caso. Diante daquilo comecei
a olhar em minha volta e percebi que ao meu lado no chão havia
pessoas deitadas. Sim, eram pacientes, deitadas no chão, e cobertas
com um cobertor marrom. Só dava para ver um pedacinho do cabelo,
pois eles cobriam a cabeça, provavelmente para se protegerem da luz
e tentarem dormir, apesar do entra e sai de pessoas, típico de um
corredor de hospital. Fiquei pensando:
Será que eles ouviam o que falávamos?
Como se sentiam, ali deitados, em condições muito precárias, no
chão, com quatro pessoas estranhas em pé, ao seu lado, falando de
morte?
Mil perguntas povoavam minha mente.
Olhei para dentro da sala a minha esquerda e reparei que havia
dezenas de pessoas na mesma situação, deitadas no chão, em camas
hospitalares, sentadas em bancos e cadeiras de rodas, eram muitas
pessoas, muitas mesmos, não dava para circular no local sem correr o
risco de pisar em alguém.
Comecei a ficar atordoado com aquilo, e meu espírito jornalístico
dizia que deveria sacar minha câmera fotográfica e sair
fotografando aquilo tudo, mas a necessidade de consolar e apoiar a
nossa amiga, me fez tomar a decisão de sentar um pouco e olhar em
minha volta, quando vi pessoas sendo atendidas, outras aguardando,
olhei mães, sentadas com os filhos no colo, uma outra, em pé,
apoiava a cabeça do filho jovem, em seu peito, gesto típico das
mães, e que traz muito conforto.
Tudo isso que vi, me remeteu ao sentimento de paz, que nascia do
caos, os funcionários ali presentes se esmeravam em atender os
pacientes, e a grande maioria deles estava acompanhada de um parente
ou amigo que procurava lhes dar conforto.
Essa postagem poderia ser um protesto as precárias condições de
nosso sistema de saúde, porém preferi olhar pelo lado do amor, amor
que consola, que cuida, o amor daqueles que trabalham por vocação e
que atendem com dedicação e carinho àqueles que precisam, o amor
que chora a perda e a saudade.
"Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado...
Resignação para aceitar o que não pode ser mudado...
E sabedoria para distinguir uma coisa da outra."
Resignação para aceitar o que não pode ser mudado...
E sabedoria para distinguir uma coisa da outra."
São Francisco de Assis
Mais do que reclamar eu fiquei pensando no que eu poderia fazer para
mudar esta situação, como eu poderia agir, como cidadão, como
indivíduo, para a melhoria destas condições? Não paro de pensar
nisso, ao mesmo tempo que fico imaginado que, apesar de 42 anos de
idade, nunca havia entrado na emergência do Hospital Conceição,
que está reformado e mais organizado do que era no passado, o que me
faz pensar nas muitas coisas que não conheço, nos muitos problemas
que nem sei que existem, das inúmeras respostas que não tenho.
Esse é um ano eleitoral, devemos pensar bem em nossas escolhas, pois
elas agem diretamente na solução de problemas como este, mas para
escolhermos bem, devemos pensar no assunto, devemos refletir sobre a
solução, devemos pensar o que nós podemos fazer e aquilo que não
está ao nosso alcance, e que depende dos governantes. Enquanto isso,
podemos fazer aquilo que está ao nosso alcance, que é dar o nosso
amor àqueles que dele necessitam, e cuidar e zelar por aqueles que
amamos, assim como nossa amiga cuidou de sua mãe até os últimos
minutos de sua vida.
Para mim amigo, essa é uma das suas maiores qualidades dentre tantas. Conseguir ver além do óbvio e agir de forma diferente dos demais.
ResponderExcluirSaibamos absorver essas palavras e transformá-las em aprendizado.