sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Abaixo a Ditadura do Diploma!


        Recentemente os vereadores de Porto Alegre, entenderam pela obrigatoriedade do curso superior para ocupantes dos cargos de chefe de gabinete e coordenadores de bancadas. Tal postura segue uma tendência de supervalorização do diploma do curso superior e poucas pessoas se insurgem contra, por temer serem acusadas de não defenderem a capacitação e o estudo.

          Não é o meu caso. Incentivei e incentivo minhas filhas a terem um curso superior e eu mesmo pretendo tê-lo um dia, e toda a especialização que for necessária para desempenhar, bem, aquilo que escolher exercer, porém não consigo aceitar a imposição descabida do diploma, como se ele determinasse a capacidade, ou não, de uma pessoa para algumas funções.

          O curso superior é importante e fundamental para o exercício de determinadas profissões, pois possibilita que ela possa estar apta a exercer atividades bem específicas e especializadas, como por exemplo, medicina e engenharia, porém, não preciso de diploma de nível superior para ser motorista, pedreiro, carpinteiro, a minha profissão de fotógrafo, e uma infinidade de outras profissões, assim como para ser político não precisa, como para ser empresário e principalmente para ser líder.

          Exigir diploma, em muitos casos, é apenas quererem nos vender aquilo que não precisamos, e impor uma limitação injusta, pois se não vejamos, pegando o caso específico da câmara de vereadores: De um lado eu tenho uma liderança nata, uma pessoa que atua politicamente desde a juventude, entende tudo de política, e por exercer uma função profissional, que não exija curso superior, fica impedida de exercer uma função política.

          Aqui cabe um parêntese. A política, geralmente é algo paralelo a nossa profissão e que pode, ou não, se transformar em uma profissão, não obrigatoriamente. A pessoa pode ser cabeleireiro, empregada doméstica, carpinteiro, motorista e, por necessidade, motivação e vontade, se tornar um líder de sua categoria, uma referência, aprender, no dia a dia, a aglutinar, convencer, liderar.

          Pois é, temos o exemplo do nosso ex-presidente Lula, que foi um dos mais importantes presidentes de nossa história, porém antes teve de superar diversos preconceitos, entre eles o de não ter diploma de nível superior, pois essa pessoa, que entende quase tudo da arte política, pode ser até presidente da república, mas não pode ser chefe de gabinete de um vereador, mesmo que para o exercício da função esteja altamente capacitado. Porém, uma pessoa, que nunca fez política, mas tem um diploma de curso superior (Qualquer diploma, de engenheiro, agrônomo, ciências aeronáuticas, farmácia, hotelaria, não importa), mesmo que para o exercício desta função ele não tenha nenhuma especialização e nenhuma experiência, e sim o simples fato de possuir o diploma, pode ocupar um cargo de relevância política mesmo que não tenha habilidade para tal.

          Isso tudo quer dizer que, quem tiver diploma superior não pode ser político? Não! Isso quer dizer que o médico, o engenheiro, o fisioterapeuta, assim como o pedreiro, a doméstica, o motorista podem ser políticos, porém, algumas pessoas querem limitar o acesso de alguns grupos às funções importantes, querem impor barreiras, para que pessoas simples, das mais diversas origens, como operários de toda a ordem, camponeses, donas de casa, profissionais autônomos, não se envolvam com política, que não possam alcançar os melhores salários e assim acenderem politicamente.

          Querem, os autores de regras como essa, que líderes comunitários, camponeses, operários, sirvam apenas como massas de manobra, e não possam galgar funções políticas de relevância, que lhes proporcionem melhores remunerações e crescimento.

          Desculpem a franqueza, mas conheci muita gente que não possui curso superior e é extremamente competente e capacitada para o exercício de suas funções, já vi muito mestre de obras dar show em engenheiro, e na política, especificamente, a melhor faculdade é a da vida. Alguém vai querer me convencer que uma pessoa que consegue reunir uma multidão em uma comunidade de periferia, que lidera uma categoria profissional, não consegue coordenar um gabinete com meia dúzia de assessores?

          Em nosso país alguém pode ser semialfabetizado, abrir um negócio, ser habilidoso, prosperar, construir um império, ficar milionário, ser respeitado internacionalmente, mas se for convidado para ser chefe de gabinete na câmara de vereadores de Porto Alegre, será considerado inapto.

          Não param de proliferar cursos superiores, presenciais ou à distância, virou um grande negócio, muitos deles colocando no mercado pessoas com “pouca capacitação”, mas com diplomas, enquanto faltam técnicos, profissionais e principalmente líderes. Despejam pessoas com diploma nas ruas, sem emprego, e a forma de continuar vendendo diplomas, muitas vezes inúteis, é criarem mais espaços onde o que precise seja o diploma e não a capacidade.

          Abaixo a Ditadura do Diploma!

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